Vem aí um novo PAC. Parece bom para Mato Grosso do Sul no médio prazo, mas pode ser terrível para o nosso desenvolvimento a longo prazo.
Não faço nesse comentário nenhuma alusão político partidária, mas quero destacar a ausência de visão estratégica (geopolítica) de longo prazo em nosso Estado, falha que não é de agora.
Devo voltar no tempo, antes da criação de Mato Grosso do Sul: naquela época, estudante de Arquitetura, já me aliava a alguns poucos que alertavam que a divisão – ou criação – do Estado, era inevitável, mas que, a médio prazo, sairíamos perdendo, em contraponto aos ufanistas surdos de então.
O tempo mostrou que tínhamos razão e muito pouco foi feito Mato Grosso do Sul assumir o espaço estratégico nas América Latina, com influência no comércio mundial.
No começo da década de 90, em um curso da ADESG, um coronel, que infelizmente a COVID deletou seu nome da minha memória, alertava que o mundo iria se dividir em três grandes grupos de influência: USA, União Europeia (ainda em criação) e a China, então ainda emergente e muito longe da importância que tem hoje.
Esse coronel, assessor de assuntos estratégicos da Presidência, disse, com todas as palavras, que Mato Grosso do Sul teria importância estratégica para esses três grupos e que havia dois equipamentos de essencial importância para esses grupos: a nossa ferrovia Noroeste e o aeroporto de Campo Grande.
Disse mais – ou previu com precisão – que a nossa ferrovia Noroeste, então ainda em funcionamento, seria privatizada, comprada por norte-americanos, como foi, e paralisada justamente para não permitir o acesso rápido e barato aos portos do Chile – e a CHINA! - através de ferrovia até Santa Cruz de La Sierra e desta a Argentina (também agora destruída,) e da Argentina até os portos do Chile, por via ferroviária.
Outra opção para esse corredor de exportação era a via fluvial até o Paraguai e Argentina e depois, por via ferroviária até o Chile.
Temos hoje a louvada Rota Bio Oceânica, através de rodovias. É bom, mas não é ótimo, não supera em economia a ligação ferroviária e fluvial.
O sinal de alerta do PAC será a construção da ferrovia que liga Cuiabá a Belém do Pará e a pretendida ligação ao Peru via ferroviária: pode ser o decreto de morte para Mato Grosso do Sul nos custos de exportação de produtos, ao criar uma nova – e mais badalada – rota de saída para o Pacífico.
Enquanto isso a novela de ressuscitar a Noroeste prossegue morosamente...
Sintomática também é a situação de nosso aeroporto, com pista de excelente dimensão e qualidade, acesso como nenhum outro do Brasil, mas que está às moscas! Tem posição estratégica Na América latina, comprovado pela localização do serviço de salvamento aéreo da FAB nesse local.
Não falo só das ligações aéreas de passageiros que estão minguando, sem ligações diretas e basta comparar com o movimento do aeroporto de Várzea Grande – Cuiabá para a situação de quase penúria, afetando nossa economia, inclusive a turística. Aliás até o terminal de passageiros de lá e infinitamente superior ao galpão vergonhoso que é nosso terminal.
Esse aeroporto, com vocação de integrar um terminal intermodal, um hub de comércio e serviços não aparece em nenhum plano de desenvolvimento.
Aliás, temos plano de desenvolvimento, com visão estratégica de futuro? Sabemos o modelo de Estado no futuro? Ou continuaremos a ser produtores de comodities, com risco de desvantagem em relação à outros Estados?
A ver.
Comments